sexta-feira, 8 de abril de 2016

PREDESTINAÇÃO E SOBERANIA DE DEUS CAP. 2.1


2. PREDESTINAÇÃO E SOBERANIA DE DEUS

        Se vamos lutar através da doutrina da predestinação, devemos começar com um entendimento claro do que a palavra significa. Aqui, imediatamente encontramos dificuldades. Nossa definição é, muitas vezes, colorida por nossa doutrina. Poderíamos esperar que, se nos voltássemos para uma fonte neutra para nossa definição — uma fonte como o dicionário Webster — iríamos escapar de tal preconceito. Não temos essa sorte. (Ou, melhor dizendo, essa providência.) Veja estes verbetes no dicionário Webster:

predestinado - destinado, fadado ou determinado de antemão; preordenado, por divino decreto, para uma sorte ou destino, terrestre ou eterno.
predestinação - a doutrina que Deus, em conseqüência de sua presciência de todos os acontecimentos, infalivelmente guia aqueles que são destinados à salvação.
predestinar - destinar, decretar, destinar, apontar ou estabelecer de antemão.

        Não estou certo de quanto podemos aprender destas definições do dicionário, além de que Noah Webster deve ter sido um luterano. O que podemos extrair, contudo, é que a predestinação tem algo a ver com nossa última destinação, e que algo é feito a respeito dessa destinação, por alguém, antes de chegarmos lá. O pre de predestinação refere-se a tempo. Webster fala sobre "de antemão". Destino refere-se ao lugar para onde estamos indo, como vemos no uso normal da palavra destinação.
       Quando ligo para meu agente de viagens para reservar um vôo, logo surge a pergunta: "Qual a sua destinação?" Algumas vezes a pergunta é feita de modo mais simples: "Aonde você vai?" Nossa destinação é o lugar para onde estamos indo. Na teologia, refere-se a um entre dois lugares; ou estamos indo para o céu ou estamos indo para o inferno. Em qualquer dos casos, não podemos cancelar a viagem. Deus só nos dá duas opções finais. Uma ou outra é nossa destinação final. Mesmo o catolicismo romano, que tem outro lugar para além da sepultura, o purgatório, vê isso como uma parada intermediária ao longo do caminho. Seus viajantes andam pela estrada local, enquanto os protestantes preferem a via expressa.
         O que a predestinação significa, em sua forma mais elementar, é que nossa destinação final, céu ou inferno, é decidida por Deus, não só antes de chegarmos lá, mas antes mesmo de havermos nascido. Ensina que nosso último destino está nas mãos de Deus. Outro modo de dizer isto é: Desde a eternidade, antes de vivermos, Deus decidiu salvar alguns membros da raça humana e deixar perecer o restante. Deus fez uma escolha — Ele escolheu alguns indivíduos para serem salvos em eternas bênçãos no céu, e outros Ele escolheu para deixar de fora, para permitir a eles que sigam as conseqüências de seus pecados em eterno tormento no inferno.
       Este é um duro discurso, não importa como o abordemos. Nós perguntamos: "Nossas vidas individuais têm alguma relevância na decisão de Deus? Embora Deus faça sua escolha antes de havermos nascido, ainda assim Ele conhece tudo sobre nossas vidas antes que as vivamos. Ele leva em conta esse conhecimento anterior de nós quando toma sua decisão?" A maneira como respondemos a esta última questão determinará se nossa visão da predestinação é reformada ou não. Lembre-se, declaramos antes que virtualmente todas as igrejas têm alguma doutrina de predestinação. A maioria das igrejas concorda que a decisão de Deus é feita antes de nascermos. A questão, então, está na pergunta: "Em que bases Deus toma essa decisão?"
      Antes de partir para essa resposta, precisamos esclarecer outro ponto. Freqüentemente as pessoas pensam a respeito de predestinação com respeito às questões diárias envolvendo acidentes de trânsito e similares. Elas querem saber se Deus decretou que um time vencesse a Copa do Mundo, ou se uma árvore caiu em cima de seu carro por decreto divino. Até os contratos de seguro têm cláusulas que se referem a "atos de Deus".

           Questões como essas são normalmente tratadas em teologia sob a liderança mais ampla da Providência. Nosso estudo enfoca a predestinação no sentido mais estreito, restringindo-a à questão extrema da salvação ou condenação predestinadas, que chamamos de eleição ou reprovação. As outras questões são tanto interessantes quanto importantes, mas ficam além da finalidade deste livro.
Continua...
R. C. Sproul

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