2. PREDESTINAÇÃO E
SOBERANIA DE DEUS
Se vamos
lutar através da doutrina da
predestinação, devemos começar com um entendimento claro do que a palavra
significa. Aqui, imediatamente encontramos dificuldades. Nossa definição é,
muitas vezes, colorida por nossa doutrina. Poderíamos esperar que, se nos
voltássemos para uma fonte neutra para nossa definição — uma fonte como o
dicionário Webster — iríamos escapar de tal preconceito. Não temos essa sorte.
(Ou, melhor dizendo, essa providência.) Veja estes verbetes no dicionário
Webster:
predestinado - destinado, fadado ou determinado
de antemão; preordenado, por divino decreto, para uma sorte ou destino,
terrestre ou eterno.
predestinação - a doutrina que Deus, em
conseqüência de sua presciência de todos os acontecimentos, infalivelmente guia
aqueles que são destinados à salvação.
predestinar - destinar, decretar, destinar,
apontar ou estabelecer de antemão.
Não estou
certo de quanto podemos aprender destas definições do dicionário, além de que
Noah Webster deve ter sido um luterano. O que podemos extrair, contudo, é que a
predestinação tem algo a ver com nossa última destinação, e que algo é feito a
respeito dessa destinação, por alguém, antes de chegarmos lá. O pre de
predestinação refere-se a tempo. Webster fala sobre "de antemão".
Destino refere-se ao lugar para onde estamos indo, como vemos no uso normal da
palavra destinação.
Quando ligo
para meu agente de viagens para reservar um vôo, logo surge a pergunta:
"Qual a sua destinação?" Algumas vezes a pergunta é feita de modo
mais simples: "Aonde você vai?" Nossa destinação é o lugar para onde
estamos indo. Na teologia, refere-se a um entre dois lugares; ou estamos indo
para o céu ou estamos indo para o inferno. Em qualquer dos casos, não podemos
cancelar a viagem. Deus só nos dá duas opções finais. Uma ou outra é nossa destinação
final. Mesmo o catolicismo romano, que tem outro lugar para além da sepultura,
o purgatório, vê isso como uma parada intermediária ao longo do caminho. Seus
viajantes andam pela estrada local, enquanto os protestantes preferem a via
expressa.
O que a
predestinação significa, em sua forma mais elementar, é que nossa destinação
final, céu ou inferno, é decidida por Deus, não só antes de chegarmos lá, mas
antes mesmo de havermos nascido. Ensina que nosso último destino está nas mãos
de Deus. Outro modo de dizer isto é: Desde a eternidade, antes de vivermos,
Deus decidiu salvar alguns membros da raça humana e deixar perecer o restante.
Deus fez uma escolha — Ele escolheu alguns indivíduos para serem salvos em
eternas bênçãos no céu, e outros Ele escolheu para deixar de fora, para
permitir a eles que sigam as conseqüências de seus pecados em eterno tormento
no inferno.
Este é um
duro discurso, não importa como o abordemos. Nós perguntamos: "Nossas
vidas individuais têm alguma relevância na decisão de Deus? Embora Deus faça
sua escolha antes de havermos nascido, ainda assim Ele conhece tudo sobre
nossas vidas antes que as vivamos. Ele leva em conta esse conhecimento anterior
de nós quando toma sua decisão?" A maneira como respondemos a esta última
questão determinará se nossa visão da predestinação é reformada ou não.
Lembre-se, declaramos antes que virtualmente todas as igrejas têm alguma doutrina
de predestinação. A maioria das igrejas concorda que a decisão de Deus é feita
antes de nascermos. A questão, então, está na pergunta: "Em que bases Deus
toma essa decisão?"
Antes de
partir para essa resposta, precisamos esclarecer outro ponto. Freqüentemente as
pessoas pensam a respeito de predestinação com respeito às questões diárias
envolvendo acidentes de trânsito e similares. Elas querem saber se Deus
decretou que um time vencesse a Copa do Mundo, ou se uma árvore caiu em cima de seu carro por
decreto divino. Até os contratos de seguro têm cláusulas que se referem a
"atos de Deus".
Questões como essas são normalmente tratadas em
teologia sob a liderança mais ampla da Providência. Nosso estudo enfoca a
predestinação no sentido mais estreito, restringindo-a à questão extrema da
salvação ou condenação predestinadas, que chamamos de eleição ou reprovação.
As outras questões são tanto interessantes quanto importantes, mas ficam
além da finalidade deste livro.
Continua...
R. C. Sproul
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