Encontrei por
várias vezes nas redes sociais a afirmação de que o cristianismo é o maior
inimigo de Jesus. O problema dessa alegação é que ela não define nem Jesus nem
o cristianismo.
Se o autor for
um desigrejado
– tipo que quer Jesus mas não a igreja institucional -, para ele, ao
que parece, o Messias era uma espécie de líder informal de um grupo
desorganizado de pescadores. Após a ascensão do mestre, esses pescadores teriam
se multiplicado em outros grupos, que se reuniram em qualquer lugar, sem liderança,
sem estrutura nenhuma. [...]. Para autores dessa vertente, o cristianismo não
passa de uma religião que deturpou completamente o propósito desse grupo
informal de andarilhos, pois construiu templos, instituiu ofícios, estruturou
liturgias, organizou-se hierarquicamente, fixou credos doutrinários e
confissões de fé, estabeleceu a disciplina eclesiástica e criou normas. Assim,
desviou-se de Jesus e de sua mensagem simples. E, por usar o nome de Cristo –
sendo uma religião que nada tem a ver com ele -, nada mais é que seu pior
inimigo.
O problema
dessa conceituação é o desigrejado parece não somente
desconhecer Jesus, mas também ignorar o cristianismo histórico. Sim, pois pouco
havia de informal no modo como Jesus organizou seus discípulos; além disso, o
cristianismo nem sempre fez de sua estrutura e organização meros fins em si
mesmos.
Por orientação de Jesus, a Igreja
Cristã já nasceu estruturada e organizada. Não me refiro a templos, organistas,
liturgia fixa ou algo do gênero. Sim, essas coisas foram acrescentadas ao longo
do tempo, mas não são necessárias. O que eu quero dizer é que, já em seus
primórdios, de acordo com o livro de Atos e as cartas dos apóstolos, a Igreja
cristã envolvia liderança, confissões, hierarquia, ofícios, dois sacramentos –
ceia e batismo -, além do exercício disciplina. E isso configura uma
organização, isto é, um organismo estruturado, que veio a ter o nome de
cristianismo.
Concordo que no cristianismo existem
normas, liturgias e práticas desnecessárias, mas isso não quer dizer que não
haja um grau de organização determinado por Deus para a Igreja. Pensar que a
Igreja de Cristo não tem um mínimo de ordem é advogar a anarquia eclesiástica.
O cristianismo só é o maior inimigo
de jesus quando deixa de professá-lo como Senhor e Salvador, quando nega sua
morte vicária na cruz por nossos pecados, quando rejeita sua ressurreição e sua
segunda vinda, quando usa seu nome a fim de arrecadar dinheiro para
enriquecimento pessoal ou para autopromoção. O cristianismo se opõe a Jesus quando
se torna secular e mundano e deixa de ser sal e luz. Condenar de forma
generalizada os adeptos do cristianismo, tachando-os de inimigos de Jesus, é um
ato de profunda ignorância.
Augustus Nicodemus
Livro: Polêmicas na Igreja
Resumo: pensamentos&teologia
Capítulo 4
Capítulo 4
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